É. Segunda feira, melhor que sábado e domingo. Explico: finalmente acabou o ENEM. Com todo respeito às “autoridades em educação”, só quem fez a prova sabe mesmo o que falar dela. E quando digo “fez” é sentar naquelas cadeiras desconfortáveis durante toda uma tarde de sábado e outra de domingo realizando uma prova de proporções épicas.
As “autoridades em educação” de tudo sabem: sabem o que tem de errado com o Ensino Médio e sabem como corrigir. Sabem como fazer para revolucionar a educação no Brasil, resolver todos os problemas. Não sabem fazer segurança de uma prova, mas o resto, dominam. É, sei. Sábado e domingo mais uma vez foi provado que o governo sabe mesmo é ser sem noção. Não tem a mínima ideia do estado de suas próprias escolas e não sabe nem mesmo deixar espaço para realizar cálculos.
Não ter a mínima ideia do estado de suas escolas significa que o governo fez uma prova que alunos de instituições públicas não têm condições de realizar; o nível ficou parecido com um vestibular tradicional. À exceção das Ciências Exatas, uma vez que o exame calcou menos em fórmulas e utilizou uma abordagem diferente. Diferente, não necessariamente melhor. Talvez até tenha sido, com foco maior em resolução de problemas do que em "decoreba", mas ela ainda esteve presente. Destacam-se aquela questão do celular (Questão 30 – Caderno Branco) em que o aluno deveria ter conhecimento de uma equação bem escabrosa. De resto, apenas equações simples, como a de Aceleração Centrípeta e algumas outras. Também foi bastante "conteudista".
Não que essa seja a melhor abordagem; quem sabe. No entanto, o governo mostrou que não sabe de nada mesmo fazendo uma prova com 45 questões de matemática – que atendem a essa proposta de inserção no contexto da vida do aluno – com textos grandes (em virtude dessa mentalidade de contextualização) e com “continhas” a perder de vista. Mas o exame é falho em sua meta de avaliar o ensino médio. Os elaboradores mostraram não ter consideração alguma com os candidatos, nem deixando espaço para a resolução, quem dirá dando calculadora. É inconcebível como em pleno século XXI ainda exista esse preconceito tolo em relação a auxílios eletrônicos. Primeiro, que se o candidato está no Ensino Médio, pressupõe-se que ele já tem domínio das quatro operações fundamentais. Segundo, supondo que ele entre na Universidade, não importa o curso, ele utilizará calculadoras: ninguém precisa ficar perdendo tempo fazendo divisões à mão. Além do mais, em certas áreas o uso de calculadora é mais do que um ganho de tempo, é uma necessidade. Na escola já usamos; os vestibulares de algumas PUCs e da UnB permitem... Isso é a realidade, é o futuro, desde 1967. É patética a tentativa do governo de elaborar uma prova demasiadamente grande e não dar condições para os alunos resolverem-na. Não dava tempo, não importa o que digam. Eu consegui ler e tentar resolver todas as questões, mas não como o exame queria. E nem como eu queria. Sendo a maioria das questões de nível médio-fácil, era possível acertá-las quase todas; o tempo, porém, foi insuficiente.
O ENEM se tornou um teste de resistência física, não uma prova de avaliação do Ensino Médio. E como um cobertor curto, não consegue testar a capacidade dos egressos em relação ao conteúdo aprendido (já que ignora aqueles que acham “pouco importantes” – leiam-se Matrizes, Determinantes, Sistemas Lineares e Números Complexos: quero ver como os futuros engenheiros vão se virar) e nem consegue selecionar como um vestibular, em virtude das falhas organizacionais (a saber: gabaritos falsos vazando, provas vazando, fiscais despreparados, péssima estrutura, atrasos...). Não creio no sucesso do ENEM. Mas provavelmente, ele “terá sucesso”, na visão das "autoridades em educação". Isso porque, quando o governo determina-se a fazer algo, difícil não fazer. Não importa se será bom ou ruim, o futuro é o ENEM.
PS.: Yeah, I'm back baby! Back to ya'll!